domingo, 18 de abril de 2010

MST na Zona da Mata mineira

Por Jani de Souza, Olívia Costa Prates, Paula Duarte, Solléria Menegati e Talitha Évely

Há 14 anos, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) havia ocupado a fazenda Macaxeira, em Eldorado dos Carajás, no estado do Pará. E para pressionar o governo estadual a atender suas reivindicações, organizaram uma marcha pacífica em direção à capital, Belém. Aproximadamente 2500 trabalhadores, oriundos dessa ocupação participavam. No caminho, construíram uma barreira na estrada, na rodovia PA-150 (ou curva do S, como é conhecida popularmente).

Os trabalhadores interditaram a estrada e exigiam alimentos e transporte, em negociação com a Polícia Militar, que acompanhava a marcha. Cerca de 150 policias militares, armados, investiram brutalmente contra os manifestantes, desarmados e indefesos. No local, 19 sem-terras foram mortos e 69 feridos. Posteriormente, mais três faleceram devido a ferimentos graves. Ainda hoje, os sobreviventes carregam traumas psicológicos decorrentes deste massacre.

Na época uma equipe de TV local registrou o fato, que ganhou repercussão internacional. O Massacre do Eldorado dos Carajás (1996) deixou uma marca na história nacional, ao lado do Massacre do Carandiru (1992) e da Chacina da Candelária (1993), sendo considerada uma das ações policiais mais violentas do Brasil. O então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) mandou desocupar a fazenda Macaxeira e instalar o assentamento. Estruturado e organizado, este assentamento agora é referência das ações do MST.

Para honrar os mortos do massacre, a Via Campesina instituiu o dia 17 de abril como dia internacional da luta camponesa. Em 2002, no Brasil, passou a ser conhecido como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, no qual se intensificam as ocupações em terras improdutivas. Em memória dos companheiros, o mês de abril ficou conhecido como “Abril Vermelho”.
Em Minas Gerais, as ações foram antecipadas. No dia 25 de março, no município de Goianá – Zona da Mata, próximo à cidade de Juiz de Fora, a fazenda Fortaleza de Santana foi ocupada por manifestantes sem-terras, apoiados por universitários e sindicalistas.

O integrante do MST, Daniel Mancio, considera este acampamento um marco, porque “trata-se de uma das maiores fazendas de escravos da região, com cerca de 4 mil hectares de terras e um histórico de degradação ambiental e exploração do trabalho dos camponeses”.

Segundo Daniel, uma ocupação não surge sem motivos concretos. Ela vem da articulação política com outros movimentos sociais da cidade e do campo, que vão garantir as estruturas do acampamento e sua segurança. Há sempre o mapeamento da região, o reconhecimento da terra. Quando sai o laudo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) confirmando a improdutividade de algum latifúndio, essa terra torna-se legalmente passível de ocupação. E o Incra negocia e compra o latifúndio para destiná-lo a reforma agrária.

De acordo com Adília Sozzi, também integrante do MST e do Comitê Central Popular (CCP), a ação em Goianá vem sendo pensada há mais de três anos. Assim que saiu o relatório do Incra, a ocupação começou a se articular e tornou-se efetiva em março de 2010, quando 150 pessoas ocuparam a fazenda.

Neste local, há áreas de preservação ambiental e cerca de 30 famílias vivem como colonos. Atualmente, a ocupação conta com a presença de mais 50 famílias. Quanto à logística do acampamento, há uma organização para todas as tarefas. Foram criadas comissões para cuidar da alimentação, da construção de barracas, banheiros, cuidado com as crianças. A preservação da área é um dever de todos. Há também uma cozinha comunitária onde os acampados sempre se reúnem durante as refeições. Para Adília, é “a representação do povo tomando as rédeas da história do Brasil.”

E foi neste contexto histórico que o dia 17 de abril foi lembrado na Zona da Mata mineira. No centro de Juiz de Fora, o MST junto ao CCP, sindicatos e universitários manifestaram - se pacificamente distribuindo panfletos e conversando pessoalmente com a população sobre as ações dos sem-terra na região. Sementes foram distribuídas como forma de relembrar o povo de que a terra pertence a quem nela quer trabalhar. Uma verdadeira celebração da luta pela soberania alimentar e igualdade de condições de vida.



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